Aquarela de poesias

Aquarela de poesias
Poesias para você

terça-feira, 30 de abril de 2024

DESALENTO

                             DESALENTO


Há tempos eu não ando pela rua

Porque sinto minha alma nua

E um aperto no sofrido coração

Nem falo sobre meus problemas

Fixei-os como meu emblema

E nem mais vou tentar a solução


Melhor seria ouvir o som da cotovia

Buscar sorrir e cantar dia após dia

Ter algum motivo para acreditar

Rever conceitos e ressentimentos

Recolher apenas bons pensamentos

Encontrar nova crença ou novo olhar


Há uma sede de buscar outro destino

De voltar a rezar, cantar um hino

E fazer preces para Deus me escutar

Sentir no corpo o tremor e a vibração

De um ser me querendo com paixão

Pra me abraçar, se declarar e recomeçar


KATIA CHIAPPINI




 

QUANDO O HOMEM SE DECLARA

         QUANDO O HOMEM SE DECLARA


Eu sou voraz e fiel viajante

De teu corpo sensual e ondulante

Observa bem o meu semblante 

E o pulsar de um coração exuberante


Sou como cigano e itinerante

Criado ao sul nos pagos gigantes

Sou homem rude mas pensante

És meu sonho de mulher cativante


Lembro do fogão à lenha já distante

Que nos via entre as chamas dançantes

Lembro da cachoeira deslumbrante

Fazendo par com pássaros esvoaçantes


Lembro dos campos sob sol causticante

E da parreira com uvas verdejantes

Descortinavam cenário deslumbrante

Mas, só tu, mulher, foste fulgurante


Hoje, já cansado e cambaleante

Sonhador qual Quixote, de Cervantes

Choro ao me ver tal qual um infante

Ao implorar por tudo o que já tive antes


Sei que pareço algo implicante:

- Mulher, aceita-me doravante

Sinto-me num inferno causticante:

- Quero voltar como amado e amante


KATIA CHIAPPINI





CASTELOS

                              CASTELOS


Castelos feitos na areia

São sonhos e vãs quimeras 

Nosso sangue incendeia

Em tristes Primaveras

São sonhos bem remotos

Riscados da nossa mente

Deixo aos homens devotos

Que se intitulam de crentes


Já construí alguns castelos

Também destruí outros tantos

São tênues e  ilusórios elos

São dignos de nosso espanto

Acumulamos, bem de leve

Quando jovens e mais belos

Embora de validade breve

Sem solidez, esses castelos


Permito-me lembrar agora

Que muitos castelos já fiz

Mas, a felicidade é inglória

Nem sempre veio como eu quis

A vida tem seu próprio critério

Conspira, contra, ou a favor

É um constante mistério

Ao intercalar o amor e  a dor


KATIA CHIAPPINI

ONDAS

                                 ONDAS


Ondas surgem da água verde- mar

Embalando nossos belos sonhos

Ondas estão nos passos a dançar 

E em meu suave molejo eu as ponho


Ondas enrolam meus fios de cabelo

Nelas mergulho meus sonhos preferidos

Os acordes em ondas eu vou vê-los

Nas cordas e no toque de violino sofrido


Faz ondas e manhas a menina travessa

Quando quer fazer que sentida chora

E a cadela Nica e meu gato persa

Fazem onda pra ficar na sala , agora 


Velejadores param para o canto ouvir

Das sereias que dizem morar no mar

São histórias que os fazem refletir

São casos e fábulas de arrepiar 


Mas, quem já não pensou em deslizar

Nas curvas de uma mulher, em ondas

Daquela que é razão de nosso '' affair ''

Tão bela ou talvez mais que Gioconda?


KATIA CHIAPPINI



quinta-feira, 25 de abril de 2024

MOMENTOS DE INTIMIDADE

             MOMENTOS DE INTIMIDADE


Portando colar e um belo salto alto

No corpo nu em total exposição

Ela ouve uma voz rouca de contralto 

Que diz termos sem  nenhuma tradução


O salto alto rodopia firme no peito

Do homem, assim, num repente

E os pés já sem salto dão um jeito

Deslizando na pele onde ele mais sente


O gesto ora acelera, ora desacelera

Ora um corpo vai, ora um corpo vem

Balançando entre os sonhos e quimeras

Um pede para ser do outro um refém


Seja interlúdio ou apenas falsa ilusão

Não se sabe se é querer ou brincadeira

Talvez seja o despertar em explosão

De dois corpos, antes, sem eira nem beira


Quando a mulher se deita com o eleito

E o homem se declara com empolgação

O côncavo e o convexo num trejeito

Se enfrentam  como o gladiador e o leão


KATIA CHIAPPINI





NEM ISSO, NEM AQUILO

                   NEM ISSO, NEM AQUILO...


Nem todo ato traz um proveito

Nem a hora esperada é agora

Nem todo o fruto é um tributo 

Nem sempre venha é a senha


Nem todo o leito é amor perfeito

Nem todo o bem significa vintém

Nem tudo que brilha está na trilha

Nem toda a orquestra faz seresta


Nem sempre a luz ao bem conduz

Nem sempre o degrau é pedestal

Nem sempre alguém nos convém

Nem a serpentina traz a Colombina


A vida, ora é saga, ora é uma praga

Não tenha pressa pra crer na promessa

Não se venda e nem aceite a comenda

Permita-se renascer para então viver


KATIA CHIAPPINI



TRAVESSIAS


                           TRAVESSIAS


Se não vier o amor vale um amigo

Se não vier a fama vale a trajetória 

Se eu não tiver fé não terei abrigo

Se tiver esperança que venha a vitória


Se eu praticar caridade terei sentido

Se eu atravessar o túnel a luz verei

Se eu procurar meu irmão querido

Meus desafios, por certo, vencerei


Se a vida não me der o que espero

Se eu souber manter a devida calma

Um dia irei colher tudo o que quero

E ficará tranquila minha pobre alma


As travessias exigem discernimento

Deus ajuda a quem faz por merecer

Leve sua vida com comprometimento

E recolha os frutos de seu proceder


KATIA CHIAPPINI